RAZÃO E PAIXÃO
E a sacerdotisa falou novamente e disse: “Fala-nos da Razão e da
Paixão”
E ele respondeu, dizendo:
“Vossa alma é frequentemente um campo de batalha onde vossa razão
e vosso juízo combatem contra vossa paixão e vosso apetite”.
Pudesse eu ser o pacificador de vossa alma, transformando a
discórdia e a rivalidade entre vossos elementos em união e harmonia.
Mas como poderei fazê-lo, a menos que vós próprios sejais também
pacificadores, mais ainda, enamorados de todos vossos elementos?
Vossa razão e vossa paixão são o leme e as velas de vossa alma
navegante.
Se vossas velas ou vossos lemes se quebram, só podereis ficar
derivando ou permanecer imóveis no meio do mar.
Pois a razão, reinando sozinha, restringe todo o impulso; e a
paixão, deixada a si, é um fogo que arde até sua própria destruição.
Portanto, que vossa alma eleve vossa razão à altura de vossa
paixão para que possa cantar;
E dirija vossa paixão a passo com a razão, para que possa viver
uma ressurreição cotidiana, e tal a fênix, renascer de suas próprias cinzas.
Gostaria de que tratásseis vosso juízo e vosso apetite como
trataríeis dois hóspedes amados em vossa casa.
Certamente não honraríeis a um hóspede mais do que ao outro; pois
quem procura tratar melhor um dos dois, perde o amor e a confiança de ambos.
Entre as colinas, quando vos sentardes à sombra fresca dos álamos
brancos, partilhando da paz e da serenidade dos campos e dos prados distantes,
então que vosso coração diga em silêncio: “Deus repousa na Razão”.
E quando bramir a tempestade, e o vento poderoso sacudir a
floresta e o trovão e o relâmpago proclamarem a majestade do céu, então que
vosso coração diga com temor e respeito: “Deus age na Paixão”.
E já que sois um sopro na esfera de Deus e uma folha na floresta
de Deus, também devereis descansar na razão e agir na paixão.
(Extraído
de O Profeta, de Kalil Gibran, 1974, p. 47-8)
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